EGAESE

Economia circular renova antigos conceitos

Os ativos da indústria de energia elétrica têm sido renovados desde a introdução desta no País, há 130 anos, mas não é impossível encontrar equipamentos com mais de 40 anos ainda em operação. Quando um ativo envelhece, seus custos operacionais tendem a subir, os custos de manutenção corretiva também aumentam e há maior necessidade de manutenção. Alguns ativos estão propensos a usarem mais energia à medida que envelhecem, devido a vazamentos, desgastes naturais, degradação de isolação, etc. E a deterioração também aumenta os riscos, inclusive os relacionados com a operação ? falhas de equipamentos podem causar acidentes. Outro motivo para a substituição é a maior dificuldade (ou mesmo impossibilidade) de reparos, por exemplo por falta de peças de reposição, com chances de causar grandes problemas para a operação. Ainda na fase de planejamento da vida de um ativo, devem-se considerar os custos de descarte ou descomissionamento, em face das responsabilidades ambientais que as empresas assumem e da legislação a que estão submetidas. Ao final da vida útil do ativo, para cumprir com a responsabilidade assumida, a empresa pode escolher a destinação mais conveniente entre as opções: recuperação, reciclagem, venda para outra empresa ou descarte.

Alguns ativos podem gerar custos de descarte ainda maiores que os custos de sua aquisição. Um exemplo são os ativos com metais radioativos ou materiais cancerígenos. Mas há outros que podem gerar receita por meio da Economia Circular, um conceito sobre o qual ouviremos muito daqui em diante.

Já praticada por muitas empresas, a economia circular permite atender a paradigmas discutidos há anos: redução do uso de materiais primários brutos e aumento do emprego materiais secundários e primários renováveis por meio de soluções oferecidas por tempo de utilização e capacidade. Isto foi possível porque atualmente praticamos novos modelos de consumo, que são fatores significativos para um sistema econômico sustentável. Ao substituir combustíveis fósseis por energias renováveis, a indústria também desempenha papel fundamental na viabilização desses conceitos em outros negócios, produzindo novos produtos com material reciclado e que requerem energia. Ao analisar a importância desse modelo, vale a pena considerar da própria perspectiva do setor: a situação do mercado de eletricidade e o estímulo à busca de novos e lucrativos caminhos. O estudo da consultoria Deloitte “Circular economy in the energy industry” nos traz algumas reflexões importantes: além das questões climáticas e de negócios, a economia circular e a otimização dos recursos podem ser vistas como uma forma de melhorar a autossuficiência energética, trazendo inúmeros benefícios em três segmentos:

  1. uso de recursos naturais relacionados com a produção de energia primária;
  2. uso de recursos excedentes pela indústria de energia e outras indústrias; e
  3. uso de energia pelo usuário final.

O mercado está mudando rapidamente: a geração descentralizada de energia renovável é crescente, o que aumenta a necessidade de gerenciamento do lado da demanda. As funções dos operadores da indústria podem mudar no futuro, e em breve, a indústria também poderá ter novas categorias de colaboradores. Quase que compulsoriamente, as empresas do setor são aconselhadas a considerar as oportunidades de negócios de futuros desafios sistêmicos em um nível estratégico. Produzir menos resíduos ? neste caso, os energéticos ? significa garantir mais recursos, redistribuindo melhor o que as grandes companhias têm a oferecer como produto ou serviço.

Um estudo da EEA – European Environemt Agency afirma que promover uma abordagem circular da economia apresenta oportunidades para influenciar as trajetórias futuras no caso dos veículos elétricos, o que aumentará os benefícios a longo prazo e reduzirá os impactos negativos, além de permitir a gestão correta das expectativas do consumidor em relação à gama de veículos que serão produzidos.

De acordo com a consultoria Accenture, até 2030 essa transição entre usos finais pode contribuir com até 45% de redução na emissão dos gases de efeito estufa e trazer ganhos financeiros da ordem de 4,5 trilhões de dólares com diminuição de resíduos, aumento da eficiência e criação de novos empregos globalmente.

Os principais benefícios estão no compromisso dos fornecedores e clientes e o gerenciamento de métodos sustentáveis, criando consciência ambiental de dentro para fora, trazendo benefícios às empresas e sociedade.

Ao utilizarmos uma lógica como a economia circular, enxergamos além das soluções práticas de mercado, juntando longevidade, reciclabilidade e novos modelos de consumo aos serviços tradicionais de energia elétrica.

Marisa Zampolli é CEO da MM Soluções Integradas, engenheira elétrica e especialista em Gestão de Ativos.