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Diversificação das matrizes elétricas é proposta para driblar as mudanças climáticas que impactam o setor

Criar soluções sustentáveis para reduzir as mudanças climáticas é mais do que essencial, é uma obrigação de todos enquanto sociedade. Ao falarmos sobre o aumento da temperatura terrestre – que vem crescendo cerca de 0,5°C por década, segundo dados do Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima (IPCC) – refletir sobre como essas alterações no globo podem impactar a área de energia, é uma discussão imprescindível para a manutenção do sistema elétrico.

A Coalizão Energia Limpa publicou o estudo “Vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação”, que analisa o impacto do aumento da temperatura terrestre no setor elétrico e mostra a vulnerabilidade de área em âmbito nacional. O relatório explica como as condições ambientais têm afetado a principal fonte da matriz limpa do país, as usinas hidrelétricas.

Na região sudeste, por exemplo, a bacia do Paraná passou cerca de oito anos (2014 a 2022) em situação de seca – visto que as chuvas desse período não foram suficientes para suprir os níveis dos reservatórios e usinas hidrelétricas. Outro caso ocorreu no Abastecimento de Água da Cantareira, que enfrentou mais de 500 dias de seca, afetando mais de 8,8 milhões de pessoas (2014 a 2015).

Considerando que o Brasil é um dos maiores produtores de energia hidrelétrica – cerca de 10% da produção mundial – e com uma matriz elétrica constituída por 64% de hidroeletricidade – crises hídricas afetam diretamente o sistema de potência, bem como as concessionárias e consumidores.

O estudo realizado pela Coalizão Energia Limpa reforça a importância de reconhecer as vulnerabilidades do setor para traçar os devidos planos de ação, que possam trazer resiliência ao setor elétrico, minimizando os efeitos negativos durante a sazonalidade, com a ampliação de usinas fio d’água (que operam com níveis constantes) e diversificando cada vez mais o abastecimento de energia nacional. Ainda, para o controle do balanço de carga e geração, o documento aborda três pontos essenciais: (a) redução das usinas hidrelétricas na matriz que mantém grandes fontes de armazenamento em seus reservatórios; (b) aumento de usinas eólicas e solares; (c) interligações com maior frequência para lidar com as oscilações.

Mudanças climáticas são um dos maiores desafios da atualidade e para enfrentá-las é preciso ter preparação e ações advindas do setor público e privado. É importante que a área de energia reconheça suas fragilidades e crie mecanismos para blindar o sistema e seguir com avanços.

É inegável que a diversificação das matrizes elétricas é urgente e os benefícios imensos. Mas, mais do que isso, criar consciência enquanto sociedade da importância de investir em ações sustentáveis e reduzir o impacto negativo no planeta é o que nos trará os maiores ganhos a longo prazo. Governos, companhias e cidadãos devem ser aliados para a conservação do meio ambiente, redução da emissão de gases do efeito estufa e, consequentemente, da temperatura terrestre.

Marisa Zampolli é CEO da MM Soluções Integradas, engenheira elétrica e especialista em Gestão de Ativos.